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Comandante nega 'paredão humano': 'se abrir as mãos, morreu'

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Comandante nega 'paredão humano': 'se abrir as mãos, morreu'

Por: G1

Presos são vistos no telhado durante uma rebelião na penitenciária de Alcaçuz, perto de Natal, no Rio Grande do Norte (Foto: Andressa Anholete/AFP)

O comandante-geral da Polícia Militar do RN, coronel André Azevedo, afirmou nesta sexta-feira (20) que não havia intenção da corporação de fazer um "paredão humano" para separar facções criminosas na Penitenciária Estadual de Alcaçuz, na Grande Natal. A afirmação foi feita pelo governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria (PSD), nesta quinta (19) em entrevista à GloboNews.

"Paredão humano, ele [governador] já se desculpou. Ele recebeu uma informação não técnica. Não existe. Lá existe arma de fogo. Polícia, se abrir as mãos, morreu", disse o comandante. "Nós para entrarmos temos que fazer uma operação complexa, planejada, que envolve muitos materiais, equipamentos armas", disse. É o 7º dia de rebeliões na penitenciária, maior do estado. Na manhã desta sexta, os presos voltaram a ocupar o telhado da unidade. Eles continuam soltos pelos pavilhões e pelos pátios do presídio, mesmo após a entrada do Batalhão de Choque e do Bope.

Segundo o comandante, deve ser instalada uma barreira física para separar as facções, que seria feita de contêineres provisoriamente. "Isso é urgente e necessário", disse. O coronel afirmou ainda que é uma "ilusão" pensar que a Polícia Militar conseguirá retirar todas as armas do presídio.

"São 5 pavilhões, cerca de 1,4 mil presos. Imaginar que 100 ou 150 homens da polícia entrem e retiram as armas é ilusão. Cada pedaço de ferro é uma arma. A gente recolhe mil. Vamos sair daqui, no mês seguinte tem mais mil. É um esforço jogado fora. Hoje, o sistema prisional, que é a cargo da Sejuc [Secretaria do Estado de Justiça e Cidadania], não é da polícia, eles perderam o controle do sistema prisional", afirmou.

O coronel disse que a ação desta quinta ocorreu para "evitar mortes e cumprir a lei" e que até o momento uma morte foi confirmada. "Nós estamos nos presídios para evitar a ação externa do resgate de presos", disse. "Nós vamos atuar para que a Sejuc possa restabelecer uma barreira física de separação. São facções numerosas que estão lá se degladiando. Enquanto não houver uma barreira física, eu vou entrar para quê? Eu vou entrar e sair."

Homens do Exército, Marinha e Aeronáutica chegaram a Natal pela manhã para reforçar a segurança dos moradores. O emprego dos militares foi autorizado pelo presidente Michel Temer. Ao todo, 1.200 homens vão integrar a Operação Potiguar 2 até o dia 30.

Rebeliões e mortes
A rebelião em Alcaçuz começou na tarde do sábado, logo após o horário de visita. Presos do pavilhão 5, que abriga integrantes do Primeiro Comando da Capital, facção ligada a presídios paulistas, quebraram parte de um muro e invadiram o pavilhão 4, onde há presos que integram o Sindicato RN. Ao todo, 26 detentos morreram durante o conflito entre as duas facções criminosas dentro da unidade, que gerou uma série de ocorrências na capital e outros nove municípios. Na quinta, houve novo confronto entre os presos. A PM diz que há mortos, mas não informou o número. 

É o terceiro dia que ônibus da capital são afetados pelos ataques. Até o momento, vinte e quatro ônibus, dois micro-ônibus, um carro do governo do estado, três carros da secretaria de Saúde de Caicó, um veículo da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana, duas delegacias e um prédio público foram alvos de criminosos.

Desde segunda, o governo do Rio Grande do Norte mantém contato com os chefes de facções para tentar retomar o controle de Alcaçuz. O secretário de Segurança Pública e Defesa (Sesed), Caio Bezerra, disse que as facções foram informadas de que a polícia não iria mais permitir confrontos entre criminosos.

Transferências e onda de violência
Na quarta (18), 220 presos ligados à facção Sindicato do RN foram retirados de Alcaçuz e levados para a Penitenciária Estadual de Parnamirim, de onde detentos foram retirados para serem transferidos a outras prisões. Inicialmente, o governo planejava fazer uma permuta e levar para Alcaçuz 116 detentos sem ligações com facções que estavam Parnamirim, o que foi vetado pela juíza corregedora responsável pelo presídio. Os 116 presos foram levados para a cadeia pública de Natal. A prisão tem capacidade para acomodar 216 presos, mas com a chegada dos transferidos de Parnamirim passa a abrigar 676.

Segundo a Secretaria de Segurança, as transferências são uma estratégia para evitar novos confrontos entre as facções criminosas e uma fuga em massa. Segundo Bezerra, além da informação sobre os túneis nos pavilhões 1 e 2, o governo soube que os detentos desses locais – ligados ao Sindicato do RN – tinham um plano "bastante avançado" de retaliação contra os presos do pavilhão 5, ligados ao PCC.

Inaugurada em 1998 com foco na "humanização", a penitenciária de Alcaçuz, no Rio Grande do Norte, está sem grades nas celas desde uma rebelião em março de 2015. Com isso, os presos circulam livremente e os agentes penitenciários se limitam a ficar próximos à portaria. O complexo, no município de Nísia Floresta, na Grande Natal, tem capacidade para 620 pessoas, mas abriga o dobro de presos.

Massacres
O Rio Grande do Norte foi o terceiro estado a registrar matanças em presídios deste ano no país. Na virada do ano, 56 presos morreram no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus. Outros oito detentos foram mortos nos dias seguintes no Amazonas: 4 na Unidade Prisional Puraquequara (UPP) e 4 na Cadeia Pública Desembargador Raimundo Vidal Pessoal. No dia 6, 33 foram mortos na Penitenciária Agrícola Monte Cristo (Pamc), em Roraima.

O governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria, classifica o massacre em Alcaçuz como "retaliação" ao que ocorreu em Manaus, onde presos supostamente filiados ao PCC foram mortos por integrantes de uma outra facção do Norte do país.

 

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