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Comércio ambulante em Camaçari: prática divide opiniões e irrita feirantes

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Comércio ambulante em Camaçari: prática divide opiniões e irrita feirantes

Por: Sheila Barretto

Com tanta variedade na rua, a população deixou de ir à feira (Foto: Sheila Barretto/CN)

Nos últimos meses, o centro de Camaçari foi sendo tomado por uma variedade de frutas, verduras, legumes e hortaliças. Homens, mulheres e jovens, começaram a estacionar seus carrinhos e oferecer seus produtos à população. Com o passar dos meses, o número de vendedores ambulantes foi crescendo e atualmente, as imediações do Centro Comercial e adjacências ficam cheios com uma variedade de mercadorias, que vão de alimentos até roupas íntimas.

A população se divide, algumas pessoas acham que está tudo bem, que eles estão buscando seu sustento, mas há quem se incomode, pois passar pela Praça Desembargador Montenegro tem se tornado cada dia mais difícil, como contou um leitor através do nosso WhatsApp. “Já não se pode mais chegar até a feira, pois no seu percurso, que começa desde a sinaleira da Praça Desembargador Montenegro (em frente à igreja católica) até a sua entrada, está completamente congestionada de vários ambulantes. Fica só um beco entre os ambientes e os pedestres para transitar”.

Outros consumidores pensam de outra forma, como Tatiane. Para ela, os ambulantes não incomodam, “eles estão trabalhando” e ela afirma que compra onde estiver mais barato, sendo na feira ou do lado de fora. Dona Dalva também concorda. “Eles estão fazendo o lado deles, a gente sabe o quanto é difícil trabalhar hoje em dia. Eu compro lá e compro aqui [na feira]. Quando tá bom lá, compro lá, quando aqui tá melhor, eu compro aqui”. Sinha também acha bom o trabalho dos ambulantes. “Eu compro com eles sempre aqui na entrada do mercado porque é mais barato”.

Quem não está nem um pouco satisfeito com essa concorrência, são as pessoas que trabalham dentro do Centro Comercial. Circulando pela feira, é possível encontrar muitos produtos, mas pouquíssimos compradores. D. Maria, feirante há 25 anos, acha muito ruim essa invasão dos ambulantes. “Pra nós está sendo péssimo, desde que eles começaram a gente perde mercadoria direto porque ninguém mais vem aqui em baixo comprar. Enquanto eles estão lá vendendo a gente tá aqui sofrendo. Aqui embaixo acabou, morreu a feira”.

Outra feirante, Ana, trabalha no local há 19 anos e acha que tem que tirar todo mundo. “Eles vendem e a gente não, jogamos mercadoria fora quase todo dia”. De fato, a barraca de Ana estava repleta de verduras, mas as poucas pessoas que circulavam, passavam direto. Seguindo o velho ditado, ‘se não pode vencê-lo, junte-se a ele’, Ana resolveu pagar uma pessoa para vender para ela do lado de fora. “Eu estava tendo muito prejuízo, então botei um carrinho pra vender lá fora também, senão eu não tinha lucro nenhum. E os governantes não vão fazer nada, em ano de eleição, eles estão atrás de voto, quero ver se quando passar a eleição eles vão tomar uma providência. Se não tomar, só em janeiro quando o próximo prefeito assumir”.

Já Dona Iraci, que trabalha na feira há tanto tempo que nem se lembra quando começou, está indignada com a situação. “Trabalho com vendas desde a feira velha. Nós estamos sofrendo muito por causa desses ambulantes. Na semana passada eu voltei pra casa todos dos dias sem um centavo. Lá fora tem gente que vem de Salvador, de Feira de Santana pra vender e isso acaba com a gente aqui da feira. Camaçari não tem administração, porque se tivesse a gente não estaria passando por isso. Até a eleição vai ser assim, eles estão atrás de voto. Mas a culpa dessa bagunça também é de alguns feirantes que botam carrinhos pra vender lá fora”. Por falta de compradores, os produtos na barraca de Dona Iraci estavam velhos e nenhum consumidor se sente atraído. Sem ganhar dinheiro por falta de clientes, a mulher ainda precisa gastar mais para ter mercadorias de qualidade. “Amanhã é dia de CEASA e eu vou ter que pedir dinheiro emprestado pra poder comprar e essas peças aqui, eu vou ter que jogar fora”, lamenta.

Mas quem são esses ambulantes? Muitos não quiseram falar com a nossa reportagem, mas três deles aceitaram contar a sua história. O primeiro foi Edmundo, de 38 anos, com seu carrinho de tempero estacionado bem na entrada da feira. Edmundo disse que trabalha há 7 anos vendendo coentro, cebolinha, salsa e hortelã, antes trabalhava em uma roça com cultivo dessas ervas. A mercadoria que ele vende vem de um fornecedor de Conceição do Jacuípe, no norte do Recôncavo baiano. O homem conta que o dia a dia na rua não é fácil e apesar do produto barato, nem sempre ele consegue vender como gostaria. “Tenho muito prejuízo, as peças são R$ 1,00, mas mesmo assim eu não vendo tudo. É muito difícil, mas eu preciso trabalhar”. Em um aspecto, todos os ambulantes concordam: o preço é barato para atrair compradores. “A mercadoria é barata porque se aumentar o preço, ninguém compra”, afirma Edmundo.

Há poucos metros de distância, encontramos Rosilene, 36 anos. Ela contou que está nesse ramo há apenas um mês e que as mercadorias que vende para outra pessoa, vêm da CEASA.  Antes vender hortaliças na rua, ela fazia faxina em casas de família, mas com a crise, não conseguiu mais casas para trabalhar e resolveu procurar outro meio de sustento para ela e o casal de filhos. Rosilene afirma que o maior problema que ela enfrenta, além do movimento fraco, é a fiscalização, que expulsa os vendedores do local, e os pedestres que também não os respeitam. “A gente tá trabalhando honestamente, somos pais e mães de família e as pessoas não respeitam a gente. Nos empurram, nos xingam, a gente se sente humilhado, mas fazer o que? Camaçari é uma cidade que não tem emprego, não dá oportunidade pra ninguém, então a gente tem que se virar”. De acordo com ela, a fiscalização às vezes age com educação, mas alguns agentes são truculentos.

Essa também é uma reclamação de Josué, de 28 anos, que trabalha vendendo bananas há cerca de 4 meses. Antes ele vendia churrasquinho na rua. Para ele o maior problema é a polícia que não deixa os vendedores na entrada da feira. “A população também não entende nosso lado, se a gente tá trabalhando, fala, se a gente estivesse roubando também iam falar e a gente só quer trabalhar”. Quanto ao movimento, ele disse que varia, tem dias em que a vendagem é boa, mas em outros, não. Josué também vende para uma pessoa que ele preferiu não revelar, e disse que só quer respeito das pessoas e da polícia. “Trabalho eles não quer dar a nós” (sic).

O grande número de vendedores ambulantes em Camaçari é um reflexo do aumento de desemprego que vem atingindo todo o país desde que estourou a crise econômica. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgados na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desocupação no segundo trimestre de 2016 foi a maior da série histórica, iniciada em 2012, em todas as grandes regiões do Brasil. No Nordeste, a taxa de desemprego subiu de 10,3% no segundo trimestre do ano passado para 13,2% no segundo trimestre deste ano. A Bahia aparece em segundo lugar entre as unidades da federação com as maiores taxas de desocupação no 2º trimestre de 2016, com 15,4%, perdendo apenas para o Amapá, com 15,8%. As menores taxas foram registradas em Santa Catarina (6,7%), Mato Grosso do Sul (7,0%) e Rondônia (7,8%).

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