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Está todo mundo sem chão. A PM era o sonho dele, diz irmão de policial

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Está todo mundo sem chão. A PM era o sonho dele, diz irmão de policial

Por Sites da Web

Everton (de rosa) e Gilberto (de boné) foram sequestrados e mortos
por bandidos

O soldado Gilberto Lemos Silva Júnior, 28 anos, chegou a ser cabo da Aeronáutica. Mas o sonho mesmo era ser policial militar. Por isso, há um ano e sete meses, entrou na corporação. Se tornou soldado na 38ª Companhia Independente da Polícia Militar, em Bom Jesus da Lapa, sua cidade natal, localizada no Vale do São Francisco. Mas, na madrugada desta segunda-feira (23), o sonho foi interrompido.

Gilberto e o colega, o também soldado da PM Everton Oliveira de Santana, 26, foram sequestrados e mortos por bandidos que tentavam assaltar bancos no centro da cidade na noite de domingo (22). Assim como Gilberto, Everton também era jovem nos quadros da corporação – estava na PM há um ano e oito meses. “Ele (Gilberto) prestou concurso da PM, foi aprovado e finalizou o curso como primeiro aluno da turma. Ele amava a farda”, conta o irmão de Gilberto, o atendente de farmácia Tarcísio Lemos, 26.

A família sabia que Gilberto estava trabalhando na noite de domingo, mas, quando os tiros começaram a ser ouvidos, não sabia bem do que se tratava. Não imaginavam que poderia ser ele. “Mas começaram disparos pela cidade toda e as pessoas falando nos grupos de Whatsapp. O pessoal da família começou a ficar preocupado e a tentar entrar em contato com a CIPM”, diz o irmão.

Os tiros começaram no fim da noite de domingo, por volta das 23h, quando uma quadrilha tentou assaltar agências do Banco do Brasil e do Bradesco, mas foi surpreendida pela guarnição da 38ª CIPM – composta por Gilberto, Everton e pelo também soldado José Cardoso Pereira – na região do Trevo da Chegada.

Os policiais conseguiram impedir o assalto, mas houve confronto. Nesse momento, o soldado José Cardoso Pereira foi baleado. Já os soldados Everton e Gilberto foram rendidos pelos bandidos e encontrados mortos em uma localidade próxima à zona rural do município, no bairro de Salinas, por volta das 5h30 de segunda. “Está difícil. Minha mãe está muito abalada, está todo mundo sem chão. Ninguém imaginava que poderia ser ele. Depois (que souberam que os PMs tinham sido levados reféns), a gente estava na expectativa de ouvir uma resposta positiva, mas acabou.

Gilberto era casado, mas não tinha filhos. Na visão do irmão Tarcísio, era um homem de personalidade forte, sempre honesto. “Éramos muito amigos. Ele estava sempre disposto a fazer o serviço dele, sempre fazendo as coisas da melhor forma possível. Ele corria atrás dos objetivos sem medo”, diz Tarcísio. Everton, por sua vez, não era casado. Morava com os pais e a irmã em Bom Jesus da Lapa. “Everton e (Gilberto) Lemos eram policiais jovens, que tinham acabado se formar e estavam muito interessados em aprender. Inclusive, se não fosse por eles, os meliantes iriam assaltar os bancos da cidade. (Eles) Impediram (o assalto), mas, infelizmente, foram levados”, lamentou o tenente Lucas Freire, da 38ª CIPM.

Os dois são, portanto, o quinto e o sexto PMs mortos desde o início do ano – em apenas 23 dias. Em nota, a Polícia Militar lamentou a perda dos soldados. O enterro dos dois será nesta terça-feira (24), às 8h, no cemitério de Bom Jesus da Lapa. Já o soldado José Cardoso, que estava com eles, foi baleado e encaminhado ao Hospital Municipal de Bom Jesus da Lapa. Segundo a 38ª CIPM, ele deve ser transferido para outra unidade de saúde em Barreiras, porque teve uma hemorragia na perna e deve precisar de cirurgia. Ainda assim, seu estado de saúde é considerado estável.

Tiroteio e entradas fechadas
O tiroteio em Bom Jesus da Lapa seguiu madrugada adentro. Moradora de Bom Jesus da Lapa, a vendedora Edineia Matos, 24, diz que, por volta das 23h, ainda achou que se tratavam de fogos de artifício. “Depois falaram que era tiro. Muito tiro. Muito tiro. Eles começavam dando um, depois disparava um bocado. Era bastante. Nossa, foi bem assustador”, desabafa a vendedora.

Ainda durante a ação criminosa, os suspeitos estouraram transformadores na entrada da cidade e fecharam as quatro saídas de Bom Jesus da Lapa – chegaram até a atravessar um caminhão em uma ponte para impedir o acesso ao município. Segundo o tenente Lucas Freire, da 38ª CIPM, metade da cidade ficou sem luz. Quando a guarnição da 38ª CIPM encontrou os bandidos, no local conhecido como Trevo da Chegada, eram pelo menos 15 bandidos. Após o tiroteio, o soldado José Cardoso foi baleado, enquanto os Gilberto e Everton eram sequestrados.

No mesmo horário, uma guarnição do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), que fazia rondas na região, se deparou com outros criminosos da quadrilha. Houve troca de tiros e um dos criminosos morreu no local. Os demais assaltantes conseguiram fugir. “Em Salinas, encontramos um carro abandonado. Era a Hillux branca, que estava numa estrada de terra”, diz o tenente.  Quando a guarnição do Bope chegou na cidade, os soldados da PM já tinham sido levados como reféns. O Bope localizou, ainda, um dos carros usados pelos criminosos – um Toyota SW4 branco – que continha explosivos e munições.

O suspeito que morreu no local, que estava com um fuzil e colete à prova de balas, foi identificado como Tiago da Silva. Segundo a Secretaria da Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP-BA), o documento encontrado com ele será encaminhado ao Departamento de Polícia Técnica (DPT) para atestar a autenticidade. “Através da confirmação da identidade deste criminoso morto em confronto conseguiremos chegar aos líderes e demais integrantes dessa quadrilha”, afirmou o responsável pela 24ª Coordenadoria Regional de Polícia do Interior (Coorpin) de Bom Jesus da Lapa, Jackson Luiz Trindade Neves.

Dia seguinte de medo
Acuada, a população escutava os tiros, durante toda a madrugada, sem saber o que fazer. “Eu só escutei os tiros, mas a coisa foi feia. Eram muitos tiros, parecia perseguição. Em tudo quanto é bairro, teve tiro”, afirma a comerciante Dilna Maria da Silva, 49. Moradora de uma das localidades onde faltou luz, ela conta que ficou trancada em casa e tentou dormir, com medo.

Pensava: ‘no dia seguinte, descobriria o que houve’. De fato, soube do que aconteceu no dia seguinte. Assim que saiu para trabalhar, encontrou outros comerciantes assustados. “O pessoal só comentando que os caras causaram terror. Nossa cidade tem bandidagem, mas não a ponto de querer assaltar banco. Tem os ladrãozinho de bolsas, essas coisas que têm em qualquer cidade. Mas nunca algo com tanto armamento”, diz.

Além disso, quando muitos moradores acordaram nesta segunda-feira, se depararam com uma mega operação da Secretaria da Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP-BA) para localizar os autores dos crimes. Durante todo o dia, equipes do Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco), do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), além da Companhias Independentes de Policiamento Especializado (Cipe) Cerrado e Semiárido fazem rondas pela cidade. Há, ainda, o apoio das aeronaves do Grupamento Aéreo da Polícia Militar (Graer).

“O helicóptero estava rodando a cidade todinha. Chegou muita polícia, muito reforço. Mesmo assim, tem gente que não saiu de casa”, contou um morador que não quis se identificar. O comércio funcionou normalmente, mas não houve movimento. “O pessoal está todo em casa. Parece que ainda estão com medo”, afirmou a vendedora Edineia. As duas agências bancárias, por outro lado, permanecem intactas, no centro da cidade. “Não teve nada: nem uma porta quebrada. Parece só revolta entre polícia e bandido”, arriscou outro morador. Fonte: Correio*

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