![Está na hora de lutarmos por nós mesmos, por Edvaldo Jr. [Está na hora de lutarmos por nós mesmos, por Edvaldo Jr.]](https://www.cn1.com.br/fotos/artigos/107/IMAGEM_ARTIGO_1.jpg?v=c237c591e1ba7b5)
Já faz muitos anos, mas dá gosto lembrar as alegres “festas de São João” de Camaçari, da fartura, da chegada do inverno (21 de junho), trezenas de Santo Antônio, São Pedro. Festejadas de forma modesta, as atrações eram nós mesmos cantando, tocando e dançando de casa em casa. Podia não parecer tão divertido, mas era um tempo bom.
A verdadeira tradição das festas juninas em Camaçari caracterizava-se por grupos da sociedade, que saíam visitando amigos e parentes e, bem vindos, levavam alegria aos lares onde eram recebidos com fartas mesas de comidas e bebidas. A população era pequena, mas se sentia feliz e primava por acolher a todos sem distinção.
Falar sobre as festas de São João realizadas em nossa histórica Camaçari é sempre prazeroso, opiniões contrárias e favoráveis nos permite comparar os velhos tempos com o momento atual, e nos transporta a um novo tempo, o tempo desta era inusitada do “Camaforró” que, com o passar dos anos, cresceu assustadoramente em termos de público. ficando conhecida como a festa do esmaga sapo: muita gente, pouco espaço e que sufoco!!!
Essa manifestação, hoje se encontra superada por grandes shows com artistas famosos e reúne a comunidade em volta de palcos, camarotes e caramanchão mantendo estilos antigos produzindo a conhecida mecânica do forró.
Antecediam a tudo isto as festas realizadas nas escolas públicas e particulares, nos órgãos públicos, empresas, enfim, onde podia se festejar, tinham como finalidade a ludicidade, mostrando a face que durante todo esses anos vem marcando a vida cultural de nossa gente.
Aceito nos quatro cantos da cidade o Camaforró cresce a cada ano. Com o passar do tempo vem figurando entre as maiores festas de São João da Bahia, elevando com isso o fluxo de frequentadores que para aqui se deslocam procedentes de cidades vizinhas, inclusive da capital; aí, o “Camaforró” vira um inferno, passando de entretenimento para sacrifício e a disputa pelo metro quadrado (m²) é ato de bravura, não se consegue andar.
O Camaforró foi criado em junho de 1989 pelo então prefeito Tude em inesquecível estreia realizada na Praça Abrantes com direito a sanfoneiros, muita música de forró, fogos, ornamentação típica do São João, muito licor, canjica e milho verde.Recordações até hoje gravadas na memória dos precursores.
A partir do ano seguinte a festa tomou um novo rumo mudando de local passando a ser realizada na Av. Comercial com dois palcos, um em cima e outro embaixo, dezenas de atrações e participação de artistas famosos como Dominguinhos, Genival Lacerda, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo, Zé Ramalho e muitas bandas de sucesso.
O prefeito Ellery ao assumir a PMC em 1993 desativou o Camaforró, voltando a ser realizado pelo patrono Tude a partir de 1997, já no “Espaço 2000” onde permanece até hoje. Apesar das consequências, cresce a cada ano o número de frequentadores e os problemas continuam. Algum dispositivo há de se encontrar, cobrar entradas beneficentes, como no caso do camarote, poderá ser a solução.
No Camaforró edição 2015, verificou-se novos contratempos motivados, não pela organização ou por infraestrutura insuficiente, mas, pelo previsto excesso de demanda provocado pela superlotação do “Espaço 2000”, onde as pessoas mal conseguiam se mexer dentro e fora dos limites da área da festa.
Em resumo, as dificuldades não foram superadas e a mesma estrutura já conhecida deixou muito a desejar. A quantidade de sanitários químicos não suportou o peso e filas enormes se formavam para se fazer “xixi”, a espera para as mulheres era em média de quarenta minutos.
O excesso de barracas complicou a vida dos foliões, lama provocada por borra do recapeamento asfáltico e água empoçada tingiram de preto os belos tênis e sapatos da turma, segurança insuficiente, engarrafamento a partir da Entrada da Cascalheira e o “empurra- empurra” de sempre, para o acesso à folia. Tudo considerado natural pelos organizadores.
Como se não bastasse, inventaram este ano um tal de “Camarote solidário”, cujo acesso se dava através do pagamento de cinquenta reais por casal, renda convertida em prol da APAE espécie de ingresso trocado por pulseira. Superlotado o camarote causou medo e receio de desabamento. É cada ideia de tirar o chapéu! O projeto 1 Kg de alimentos perecíveis não funcionou.
Por mais que a PMC busque a perfeição, o “Camaforró” está ficando problemático, próximo do colapso. Na véspera de São João por volta das vinte e uma horas não se conseguia mais entrar e nem sair do espaço 2000. Barril puro...
Diante das nuances amostradas vislumbra-se retornar aos velhos tempos, reunindo vizinhos e amigos resgatando o São João de outrora, festejado nas ruas ou mesmo na casa de amigos como se fazia antigamente. Aí então, teríamos alternativas para sair da panela de pressão do “Espaço 2000”. Poderíamos cantar com alegria os versos dos sanfoneiros Luiz Gonzaga e Zé Dantas “Ai que saudades que sinto, das noites de São João, das noites tão brasileiras na fogueira, sob o luar do sertão”.
Um grande abraço, esperando que no próximo ano as festas de São João e o Camaforró sejam repensados para alegria de todos e felicidade geral do povo de nossa terra.
J.R. Mônaco