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CRÔNICAS DA CIDADE
2016.75 – ANO V
J.R. MÔNACO
Bacharel em Direito. Consultor
político. Testemunha ocular da
história.
“A politica é a ciência que tem por objetivo
a felicidade humana divide-se em ética e em
politica propriamente dita e deve se preocupar
com a felicidade humana”. Aristóteles.
“CAMAÇARI. A ETERNA ESCOLA POLÍTICA”
Políticos da velha guarda afirmam que o município de Camaçari desde a sua emancipação vive uma inusitada história política motivada por fatos e atos que marcaram momentos inesquecíveis ligados ao exercício político, difíceis de esquecer, prova incontestável de que Camaçari foi e sempre será uma eterna escola política.
Em 1945 ao findar-se a ditadura de Getúlio Vargas, período de recessão, surgia um novo regime democrático, acompanhava o processo a reorganização de partidos políticos, preparação de candidatos a presidente da República com eleições gerais marcadas para dezembro de 1947 para governadores, prefeitos e vereadores.
Camaçari apesar de está consolidada como município desde 1935 sob a influencia política do Desembargador Montenegro, (não existia Câmara Municipal) era administrado pela figura do intendente (espécie de prefeito nomeado) que em função do natural desenvolvimento ganhou a sua emancipação passando a ter direito ao exercício do voto, instrumento de definição de uma vida melhor sonhada pelos cidadãos e cidadãs do município.
INFLUENTES
O ex-intendente João Osvaldo de Araújo conhecido como “Joãozinho Araújo”, destacado líder, dono de barcos de pesca lançou a sua candidatura a prefeito tocou a campanha elegendo-se primeiro prefeito pelo voto popular. Habilidoso, articulador, tomou posse em 20 março de 1948 amparado pela abertura democrática que se iniciava.
Na política daquela época eram destaques Mario Fernandes, Estevam Fagundes, Aurino Malaquias de Souza, Manoel Florêncio Tavares, Ilda Leal Ulm, Antonio Pio, Capitão José Martins, Hermógenes Souza, José Evaristo, o próprio prefeito João Araújo e outros não menos famosos, precursores da virtual escola politica de Camaçari.
João Araújo de acordo com anotações históricas e por questões até hoje pouco esclarecidas, suicidou-se no trágico dia 7 de outubro de 1950, a sua vaga foi ocupada por Antonio Pio dos Santos escolhido pela Câmara através de voto secreto cujo mandato durou até abril de 1951.
RAPOSAS DA POLITICA
Logo após, iniciou-se o período de revezamento continuísmo protagonizado por Hermógenes Bispo de Souza e José Evaristo “O Zequinha” por dezesseis anos prefeitos alternando mandatos a cada quatro anos passando a bola de um para o outro.
Considerados raposas da politica, mas com poucos recursos nada fizeram pelo município. A administração desses prefeitos era regida pelo tradicional, paternalismo pelo clientelismo e o conhecido assistencialismo, assim, os favores pessoais tornavam os eleitores cativos e eternos dependentes do favoritismo. A situação da prefeitura era até então de quebradeira.
Na escola politica da vida se aprende de tudo; não poderia desta forma faltar no contexto as conspirações, renúncias, traições, cassações, calunias, decepções, luta pelo poder, tempero obrigatório desde os velhos tempos.
O REGIME MILITAR E O NOVO CICLO POLÍTICO
Passado o tempo ficou gravado na lembrança de muitos a época em que vivíamos sob o “Regime Militar”, o exercício da politica bloqueado, as medidas rígidas modificaram o comportamento da cidade ainda em crescimento, (não tínhamos o Polo Petroquímico) tudo era atraso, sequer tínhamos uma praça publica, animais pastavam livremente pelas ruas do centro.
Nesse interim, a Câmara fechou as portas, aos poucos os direitos civis dos cidadãos foram abolidos, dependia-se de ordens do governo militar para o funcionamento, tudo em nome da revolução e da segurança nacional, a Câmara Municipal sem autoridade aguardava autorização do Governo Militar pra voltar a funcionar, a pauta das reuniões era censurada.
Em 1966 o Ten. Luiz Pereira Costa elegeu-se prefeito de Camaçari, iniciando um novo ciclo politico, despontaram novos nomes como o de Luiz do DERBA, Ortiz Coelho Pinto, Francisco Cardoso, Manoel Mercês, Joãosito Figueiredo e outros. Luis Pereira impulsionou o município dando partida a um novo tempo de realizações; prestigiou os vereadores e com isso o transito político ficou mais livre devolvendo ao vereador as prerrogativas do mandato.
Inesperadamente, ao se encerrar a gestão do Prefeito José Vitorino em 1973, o Governo Federal anunciou a criação das “Áreas de Segurança Nacional”, os prefeitos ao invés de eleitos passaram a ser nomeados, extintos os partidos políticos criou-se dois novos partidos a ARENA (Governo Militar) e o MDB, hoje PMDB (Oposição).
O FIM DA AREA DE SEGURANÇA NACIONAL
O primeiro prefeito de área de segurança nacional em Camaçari nomeado Antonio Andrade passou dois anos e nada fez, nada realizou; embora matriculado na escola politica pouco aprendeu substituído por Humberto Ellery nunca mais apareceu.
Esses dois prefeitos passaram treze anos administrando Camaçari na qualidade de prefeitos nomeados, a principio por serem indicados pelo regime militar supunha-se não ter obrigações com o povo. A Câmara era figura decorativa servia apenas para aprovar projetos e referendar documentos.
Em maio de l985 por força de Emenda Constitucional nº 25 foram reestabelecidas as eleições diretas para prefeito incluindo o vice-prefeito. Nas cidades até então consideradas área de segurança nacional abrangendo exigências para reintegração ou criação de partidos políticos de esquerda e partidos como PCdoB e PCB entre outros que se tornaram legais.
A JORNADA DOS PREFEITOS
Por ironia do destino, nesta escola se matriculou Luiz Caetano, descobriu Camaçari “a mina de ouro” local certo para se aprender politica. Formado em Farmácia pela UFBA, aqui aportou e nunca mais saiu. Elegeu-se vereador em 1982, Presidente da UPB, prefeito três vezes, deputado estadual; no aprendizado ganhou três eleições em quatro anos; hoje ocupa uma das cadeiras na Câmara Federal. Vereador, deputado Estadual e prefeito (2001/2004).
Luis Caetano abraçou o populismo (causas populares) promoveu protestos, concentrações e manifestações. Fez sucesso como desafeto da administração do então Prefeito Ellery; ações como a invasão das Glebas Residenciais B e E marcaram o inicio das ações políticas.
Após um longo período sem mandato, mesmo de bolso vazio conseguiu sobreviver utilizando o discurso como instrumento de uma nova cartilha politica.
A eleição de Tude em 1988 devolveu ao povo de Camaçari parte da sua auto estima. Adotando um novo estilo de governar “O careca” como é conhecido, aprendeu na escola politica de Camaçari, o suficiente para se eleger três vezes prefeito, foi deputado federal, deputado estadual, Presidente da UPB complementado com a escolha pelo Governo Estadual para presidir a CONDER.
O aprendizado popular diz que “sabedoria de mais vira bicho e engoliu o dono”; catedráticos da politica como Ellery, Caetano e Tude não conseguiram o entendimento necessário para eleger seus substitutos, no caso,os candidatos Françú, Luiza Maia e Mauricio Bacelar e os vices prefeitos Marambaia, Odilon, Gilberto D’Errico e Teresa Giffoni que desapontados cancelaram a matrícula na escola politica.
Por fim, matriculada está a advogada Jailce Andrade que provavelmente será anunciada como candidata do prefeito Ademar Delgado substituta no próximo mandato. O prefeito aposta na virada de mesa em mais uma demonstração inequívoca de que a coragem pode ganhar eleições. Quem viver, verá.
Um sem número de histórias politicas sobre a nossa cidade podem ser traduzidos em relatórios e crônicas mostrando em detalhes a bela pagina cultural e politica da legendaria Camaçari;, incluindo-se fatos que todos deviam conhecer, principalmente aqueles indispensáveis aos assentamentos históricos desta discutida cidade.
Não esquecer que a “politica é uma faculdade da qual você nunca se forma, ao contrario estará sempre aprendendo”.
Um abraço!Até a próxima.
J. R. Mônaco
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