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(Foto: Reprodu&ccedil;&atilde;o)

Em sua obra, o Leviat&atilde;, publicado em 1561, Thomas Hobbes aborda a exist&ecirc;ncia de um Contrato Social envolvendo toda a Sociedade. Para ele, os homens, vivendo em um estado de natureza, sem a presen&ccedil;a de um poder superior tenderiam a guerrear entre si, todos contra todos. Assim, para n&atilde;o exterminarem-se seria necess&aacute;rio um contrato social que estabele&ccedil;a a paz, a qual levar&aacute; os homens a abdicarem da guerra contra outros homens. Mas, ego&iacute;stas que s&atilde;o, necessitam de um soberano (Leviat&atilde;) que puna aqueles que n&atilde;o obedecem ao contrato social.&nbsp;

O que, na perspectiva ret&oacute;rica de Hobbes era uma refer&ecirc;ncia b&iacute;blica, exposta no livro de J&oacute; e, na proje&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica, era o governo absolutista; hoje &eacute; consolidado no estado moderno, democr&aacute;tico, social e tripartite; com poderes para dizer a lei e punir os seus transgressores.

Mas como punir o Leviat&atilde;, quando ele n&atilde;o obedece a esse Contrato Social? Quando descumpre as leis ou quando se torna um inadimplente contumaz?

Como enfrentar esse monstro que, quando inadimplente, decide doar aos futuros pseudos estratos sociais-eleitorais, parte de seu passivo financeiro como estrat&eacute;gia para constru&ccedil;&atilde;o de um ativo pol&iacute;tico eleitoral futuro. Num jogo de assistencialismo despudorado?

Esse Leviat&atilde;, que recolhe e mal administra nossos impostos, que negligencia na sa&uacute;de e na seguran&ccedil;a p&uacute;blica, que cria e altera as leis, que julga, que absolve, condena e depois absolve novamente uma mesma pessoa, que criminaliza opini&otilde;es e manifesta&ccedil;&otilde;es legitimamente permitidas pela constitui&ccedil;&atilde;o. Um leviat&atilde; que se escuda num emblema midi&aacute;tico de &ldquo;Um Pa&iacute;s de Todos&rdquo; e &ldquo;P&aacute;tria Amada&rdquo;.

Essa &ldquo;P&aacute;tria Amada Leviat&acirc;nica&rdquo; que aprovou, em primeira vota&ccedil;&atilde;o, na madrugada da quinta-feira (04/11), a PEC dos Precat&oacute;rios, que autorizou o Governo a adiar o pagamento de R$ 91,6 Bilh&otilde;es de reais aos credores da Uni&atilde;o. Um calote generalizado e despudorado, cuja maior parte do montante desse calote ser&aacute; usado para pagamento do Aux&iacute;lio Brasil, no valor de R$ 400,00 &agrave;s fam&iacute;lias de baixa renda, substituindo o extinto Bolsa Fam&iacute;lia.

N&atilde;o nos parece exagerado afirmar que nosso pa&iacute;s tornou-se, desde muito tempo, um Estado perform&aacute;tico e anacr&ocirc;nico. Navegando conforme o vento do ativismo jur&iacute;dico, o tempo do assistencialismo pol&iacute;tico e o resultado das pesquisas eleitorais.

N&atilde;o obstante a import&acirc;ncia da ajuda material proposta com a cria&ccedil;&atilde;o do Aux&iacute;lio Brasil, seu escopo &eacute; meramente paradigm&aacute;tico e eleitoreiro. Editando os confrontos (Bolsa Fam&iacute;lia x Aux&iacute;lio Brasil e Lula x Bolsonaro), dificultando, por consequ&ecirc;ncia, a ascens&atilde;o da Terceira Via. Campo pol&iacute;tico e eleitoral que tem como um dos protagonistas, segundo pesquisas recentes, o ex-ministro e atual pr&eacute;-candidato a Presid&ecirc;ncia da Rep&uacute;blica, pelo PDT, Ciro Gomes, que vem se manifestando contrariamente a PEC.

A cr&iacute;tica do tamb&eacute;m ex-governador cearense se justifica, n&atilde;o pelo calote, mas pelo posicionamento favor&aacute;vel da bancada de seu partido, &agrave; aprova&ccedil;&atilde;o da PEC dos Precat&oacute;rios e por consequ&ecirc;ncia, pelo fortalecimento da polariza&ccedil;&atilde;o em desfavor da Terceira Via.

Nesse sentido, Ciro amea&ccedil;ou abandonar a sua pr&eacute;-candidatura, caso seja mantida, na segunda vota&ccedil;&atilde;o, a tend&ecirc;ncia de aprova&ccedil;&atilde;o da PEC, demonstrada em primeira vota&ccedil;&atilde;o.

Assim agindo, Ciro Gomes joga contra o povo, contra a classe m&eacute;dia credora do Leviat&atilde; e contra Bolsonaro. Pensando apenas em seu projeto eleitoral. Todavia, pode estar favorecendo implicitamente o projeto da esquerda. 

Contrastando com as ideias expressas em seu livro &ldquo;Projeto Nacional: Dever de Esperan&ccedil;a&rdquo; onde Ciro prop&otilde;e um debate racional sobre o pa&iacute;s que somos e o pa&iacute;s que desejamos; esse pol&iacute;tico paulista se apequena diante de um Leviat&atilde; j&aacute; representado por ele e pelos seus, especialmente durante o reinado da esquerda no pa&iacute;s. 

Com ou sem Terceira Via, com ou sem ele, quem viver ver&aacute; o destino do pol&iacute;tico e do Leviat&atilde; Verde e Amarelo.

<img alt="" src="/fotos/artigos/95/mg/Luciano Ferreira.jpg" style="float:left; height:200px; width:191px" />Luciano Ferreira Lima

Consultor e Estrategista Pol&iacute;tico, Advogado, P&oacute;s-graduado Lato Sensu em Direito, Mestrando em Ci&ecirc;ncia Pol&iacute;tica, Professor Universit&aacute;rio, Palestrante e Articulista.

Artigos

A votação da PEC dos Precatórios: Ciro Gomes e o Leviatã Verde e Amarelo

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