Usamos cookies para personalizar e melhorar sua experiência em nosso site e aprimorar a oferta de anúncios para você. Visite nossa Política de Cookies para saber mais. Ao clicar em "aceitar" você concorda com o uso que fazemos dos cookies

Notícias

/

Geral

/

Indigentes de São Paulo são enterrados nus e em caixões abertos

Geral

Indigentes de São Paulo são enterrados nus e em caixões abertos

Por: Sites da Web

 

Foto divulgada na internet mostra caixões abertos antes de enterro

 

É na última quadra, no fim da colina do cemitério Dom Bosco, em São Paulo, que estão enterrados os “indigentes” da maior cidade brasileira. Seus corpos chegam nus e em caixões de compensado que não são lacrados. Algumas dessas caixas de madeira nem sequer possuem tampa, atraindo curiosos aos enterros, que acontecem quase diariamente. Ali os cadáveres ganham uma identificação no livro de registros, uma estaca com um número e uma cova rasa.Chamá-los de “indigentes” não passa de simplificação, já que boa parte deles possui documento de identidade, mas teve o azar de morrer longe das famílias, sem o conhecimento delas.Entre junho de 2014 e junho de 2015, São Paulo enterrou 791 pessoas em valas para “indigentes”, de acordo com uma lista criada há um ano pelo serviço funerário da prefeitura.

Desse total, 422 são os chamados “desconhecidos”, que são as pessoas encontradas mortas sem documentos. Os 369 restantes possuem nome, RG e endereço, mas não tiveram as famílias contatadas pelo poder público. A responsabilidade para isso seria do SVOC (Serviço de Verificação de Óbitos da Capital), órgão vinculado à USP, além dos sete IMLs (Instituto Médico Legal) da cidade, ligados à Secretaria de Estado da Segurança Pública. São esses dois órgãos que encaminham os cadáveres para a prefeitura realizar os enterros. Nenhum deles, no entanto, presta o serviço de encontrar familiares das pessoas identificadas.Existem três situações que levam uma pessoa a ser enterrada como “indigente”.

A primeira é justamente a dos desconhecidos. Como são encontrados mortos sem documentos, seus corpos são enviados ao IML para necropsia e, em seguida, encaminhados para enterro em terreno público.No segundo caso, estão as pessoas identificadas que sofreram morte violenta, mas sem o conhecimento da família. Os corpos também são encaminhados para o IML para a necropsia. É aberto um boletim de ocorrência para investigar a morte, mas isso não é garantia de que as famílias serão contatadas.No terceiro caso, estão os “não reclamados”: pessoas identificadas que sofreram morte natural. Seus corpos são enviados para o SVOC, que faz a necropsia para o controle de doenças do município. O órgão espera por dez dias até que algum familiar reclame pelo corpo. Se isso não acontecer, o cadáver é enviado ao serviço funerário municipal.

Pelo menos 3.000 pessoas não reclamadas foram enterradas como indigentes na cidade desde 2000, segundo investigação do Ministério Público de São Paulo.Há três cemitérios em São Paulo que realizam enterro de desconhecidos e não reclamados: o São Luiz, na zona sul, o Vila Formosa, na zona leste, além do Dom Bosco, em Perus, no extremo norte da cidade.O cemitério de Perus, como é conhecido, é o principal deles. Dos 791 casos analisados pela reportagem, 639 foram enterrados lá, uma média de 49 por mês.

Perus enterra pessoas desconhecidas desde 1971, quando foi inaugurado, durante a gestão do prefeito Paulo Maluf. O local ficou marcado posteriormente pelo sepultamento de mais de mil pessoas em uma vala clandestina, incluindo presos políticos assassinados pela ditadura militar. Essa vala foi encontrada e aberta em 1990, durante a gestão Luiza Erundina, e, em dezembro de 2014, uma equipe forense iniciou a análise das ossadas para identificar os restos mortais de desaparecidos políticos.

Amontoados:Atualmente, não há dia nem horário exatos para o enterro de indigentes, embora aconteçam com maior frequência às terças e sextas-feiras, entre 11h e 15h.Os corpos chegam em um furgão azul chamado “rabecão”, que é o veículo do IML utilizado para os transporte de cadáveres.Os caixões ficam amontoados no rabecão. Como as urnas não são lacradas e os corpos não são cobertos, é possível ver as pernas e pés de alguns dos cadáveres saindo das caixas de madeira.

A exposição dos corpos atrai curiosos ao Dom Bosco, o que exige dos coveiros não somente o trabalho de carregar e enterrar os corpos, mas também o de monitorar o “público” para impedir que fotos e vídeos sejam gravados.No dia em que a reportagem esteve no local, um casal visitou a quadra dos indigentes por volta do meio-dia à espera dos corpos. “Minha irmã disse que dá pra ver tudo, então eu vim ver”, disse a mulher. Com a demora do rabecão, o casal acabou desistindo.

Naquele dia foram enterrados três homens, além de outros dois pequenos caixões contendo membros de corpos. Segundo os coveiros e outros funcionários do cemitério, o número é considerado baixo, já que há dias em que são enterradas até 20 pessoas. Por isso, é preciso que 30 covas estejam abertas diariamente em Perus.Antes de levar os corpos até a última quadra do cemitério, o rabecão faz uma parada na quadra anterior, a chamada “quadra dos anjinhos”, reservada ao enterro de crianças e bebês. É ali onde são enterrados os dois pequenos caixões.Em seguida, o rabecão entra na quadra dos indigentes, passando por um terreno acidentado e evitando as covas antigas que, com a ação do tempo, afundam e formam buracos.O cemitério de Perus não possui túmulos de cimento ou mármore.

Nas outras quadras, familiares erguem jardins sobre os jazigos, colocando placas de cimento com nome e datas e, em alguns casos, fotos. A quadra dos indigentes, no entanto, possui apenas estacas com números, que identificam uma sequência de cinco cadáveres. Quando uma família encontra um parente enterrado ali, ela tem a opção de entrar na Justiça para pedir a exumação do corpo, ou, então, esperar o período de três anos até que o corpo seja exumado pelo próprio cemitério. Em poucos casos, os familiares erguem jardins no local onde está o corpo do parente.O enterro é rápido. Com auxílio de cordas, quatro homens erguem as urnas e caminham por uma distância de cerca de cinco metros entre o rabecão e as valas.

O procedimento foi gravado pela reportagem utilizando uma câmera escondida. Dos três caixões, um não possui tampa. Os outros dois, apesar de cobertos, não estão fechados. Dentro da caixa de madeira aberta está um cadáver com um corte que vai do pescoço ao púbis, resultado da necropsia, além de uma etiqueta de identificação. Dá pra ver ainda que o corpo está sujo, com algumas marcas de sangue, principalmente perto do pescoço e da boca.O caixão é enterrado diretamente na cova, sem cobertura, com a terra despejada em cima do corpo.

Relacionados