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Cerca de 2.400 rodoviários se afastam da profissão após situações de violência

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Cerca de 2.400 rodoviários se afastam da profissão após situações de violência

Por: Sites da Web

Assalto a ônibus na BR-324 acabou com passageira baleada e suspeito morto
(Foto: Evandro Veiga/CORREIO)

Violência comum sofrida por rodoviários em Salvador, assaltos a ônibus motivam, também, o afastamento das funções. Isso porque, de acordo com o Sindicato dos Rodoviários, os motoristas e cobradores que ficam abalados solicitam licença de afastamento às empresas de ônibus. De acordo com o vice-presidente da entidade, Fábio Primo, cerca de 2.400 trabalhadores, o que corresponde a 20% da categoria, acabam desenvolvendo algum tipo de problema ou tensão psíquica.

Ainda segundo Primo, o próprio sindicato sugere o afastamento aos trabalhadores, por meio do Certificado de Acidente de Trabalho (CAT). "Nós orientamos e acompanhamos este processo. É altíssimo o índice de periculosidade. Temos rodoviários atacados por seringa, queimado, morto por tiro, então há um risco real", salientou. O CAT é concedido por um médico, após a realização de consulta e exames no trabalhador e o período de afastamento também é com base em determinação médica.

Um assalto que deixou uma pessoa morta e duas feridas, na última terça-feira (25), na Jaqueira do Carneiro, BR-324, e outra tentativa de assalto em que um sargento da reserva da PM e um passageiro foram mortos, levantaram questões acerca da insegurança de ser rodoviário, em Salvador. O motorista do coletivo do primeiro caso, Jorge Batista, 50 anos, foi assaltado em circunstâncias bem parecidas há menos de três meses. Além de Jorge, que optou por não solicitar o CAT, o CORREIO ouviu outros motoristas que relataram um histórico de situações de violência.

É o caso de Albertônio Mota, 40, que já sofreu seis assaltos, em 15 anos dirigindo ônibus em Salvador. "O maior risco da nossa profissão é o assalto. Durante a noite, é bem pior. Todas as vezes em que fui assaltado foi trabalhando à noite", afirmou ele, que acabou trocando de turno e atualmente trabalha de manhã.

Algumas experiências de violência ficam gravadas na lembrança. Motorista de ônibus há oito anos, Iramácio dos Santos, 44, tem na conta quatro assaltos e lembra examente os pontos em que sofreu as investidas. "Rio Vermelho, Paralela, Sussuarana e Pirajá", lembra. Em todas as vezes, Iramácio teve os pertences levados pelos bandidos. Para ele, a manhã é o horário preferido dos bandidos. "Entre 8h e 10h, porque o ônibus está vazio", garante.

Embora nunca tenha sido assaltado, o motorista Cláudio Passos, 47, trabalha em um veículo que ainda leva as marcas de violência. Testemunha de um homicídio dentro do coletivo há cerca de seis meses, ele narra a violência que assistiu enquanto trabalhava. "Duas motos emparelharam com o ônibus, um dos caras subiu e deu mais de 10 tiros em um passageiro que estava aqui", afirmou, apontando para as marcas de tiros em uma das primeiras cadeiras do ônibus.

Para Cláudio, as avenidas Paralela e Bonocô, além da orla, são  alguns dos lugares preferencialmente escolhidos para práticas de assalto. Com três assaltos sofridos em 35 anos de profissão, o também rodoviário Antônio Caldas, 68, afirmou que a insegurança se inicia a partir do momento em que sai de casa, às 3h. Embora tenha sido assaltada na Avenida Bonocô, Lobato e em Amaralina, Caldas elegeu a Avenida San Martin e região da Brasil Gás como as preferidas para assaltantes.

Segundo Fábio Primo, a profissão é uma das mais arriscadas. “Os profissionais que se sentirem abalados, de alguma maneira, devem buscar esse tempo. Muitos chegam a desenvolver até síndrome do pânico”, finalizou. O diretor de relações de trabalho do Sindicato das Empresas e Transaportes Geral (Setps), Jorge Castro, disse que situações de violência envolvendo os rodoviários são pontuais. “É um certo exagero. Dizer que esse número de rodoviários se afasta por esse motivo é dizer que a cidade inteira é violenta e isso não é verdade, são casos isolados”, afirmou, fazendo referência ao número indicado pelo Sindicato dos Rodoviários.

De acordo com Castro, é pequeno o número de atos violentos sofridos pelos rodoviários. “Repare que os casos de assalto não correm em horários de pico e com ônibus cheios. Um ônibus que tem 100 pessoas, por exemplo, não vai ser assaltado. Quem anda de ônibus sabe disso”, garantiu. E completou: “O trânsito de cinco da manhã é problemático, então são casos pontuais”, encerrou.
 

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