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Família de vítima da Covid-19 diz que carregou corpo após hospital negar ajuda: 'Triste'

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Família de vítima da Covid-19 diz que carregou corpo após hospital negar ajuda: 'Triste'

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Por: G1

Raimundo, que era autônomo e trabalhava como amolador no bairro do Garcia, morreu na segunda-feira (11). — Foto: Arquivo Pessoal 

A ex-esposa de Raimundo Gilberto Planzo dos Santos, de 46 anos - homem que morreu em Salvador após ser diagnosticado com a Covid-19 - afirmou nesta quinta-feira (14), que ela e o filho precisaram ajudar a colocar o corpo da vítima no caixão após ter um pedido de ajuda negado por profissionais de um hospital. 

Segundo a família, o homem começou apresentar quadro de diarreia no início deste mês. No dia 5, ele foi em um posto de saúde do bairro do Garcia, quando foi transferido para o Hospital Ernesto Simões Filho, na Caixa D'água. 

"Ele estava em casa há nove dias, com diarreia e tossindo muito forte, tosse seca, e com muita dificuldade de andar. Internaram ele, meu filho preencheu a ficha, e levaram ele para sala. Ali, meu filho não viu mais", disse Nilzete, ex-companheira de Raimundo. 

Raimundo foi submetido ao teste rápido para identificar a contaminação da Covid-19, mas, na ocasião, o resultado deu negativo. Apesar disso, ele permaneceu internado e isolado pois os médicos identificaram um grande comprometimento nos pulmões. 

Um dia após a internação, já no dia 6 de maio, Raimundo foi entubado e submetido a um novo teste rápido. O resultado positivo foi constatado três dias após o exame. Ele morreu na segunda, após ter uma parada cardíaca. A família conta que, no mesmo dia, providenciou o sepultamento. 

"Ligaram na manhã de segunda, pedindo para a gente comparecer ao hospital. Chegando lá, a gente na recepção falou com os seguranças, pedimos para falar com a assistência social, que tinha pedido para a gente comparecer lá. Chegando lá, o médico falou para a gente: 'O seu Raimundo faleceu, não suportou e faleceu no domingo, às 23h20'", lemba Nilzete. 

Já na terça-feira (12), Nilzete e o filho mais velho de Raimundo, Wesley, acompanharam a funerária até o hospital quando identificaram anormalidades. 

O homem ainda estava com a fralda que ele usava durante o internamento e capa que envolvia o corpo estava rasgada. Além disso, as pernas estavam para fora da cama, que deveria ser de proteção. 

A situação é contraria às instruções do "Manual de Manejo de Corpos no Contexto do Novo Coronavírus", publicado pelo Ministério da Saúde em março, por causa da pandemia do novo coronavírus. 

A orientação do documento é que o corpo seja enrolado em lençóis, acomodados em saco impermeável, além de ser embalado em um segundo plástico, que deve ser desinfectado com álcool 70%. 

Na sequência, três funcionários da funerária não conseguiram carregar sozinhos o corpo do homem para acomodar no caixão. Foi ai que a ex-esposa e o filho pediram ajuda dos profissionais do Hospital Ernesto Simões Filho, mas tiveram o pedido negado pelos maqueiros e auxiliares de enfermagem que alegaram não ter obrigação desse tipo de serviço. 

"Chegando no hospital, a gente procurou liberar o corpo de Raimundo, e eles disseram: 'O hospital não bota ninguém, vocês que tem que remover para o caixão'. Aí ele [funcionário da funerária] não conseguia sozinho porque Raimundo era um homem forte, muito grande, tinha dois metros. O enterro era 13h, e a gente não podia ficar questionando quem ia pegar o corpo. O homem da funerária disse: 'Então vocês vão ter que ajudar", conta Nilzete. 

Por causa disso, e também para não perder a vaga no cemitério em função de atrasos, Nilzete e o filho de Raimundo ajudaram os funcionários da funerária, com as mãos, a colocar o corpo no caixão. 

"Eu e meu filhos, nos expomos ao vírus naquele momento, porque tivemos que entrar no necrotério. A gente colocou luva, segurou o corpo, e ajudou a remover o corpo para o caixão. É muito triste, muito. Passei uma dor. Meu filho não vai esquecer do pai e ainda tem que fazer isso", falou emocionada. 

Ainda de acordo com o manual do Ministério da Saúde, o contato com o corpo infectado deve ser o mínimo. E, quando houver necessidade de aproximação, os familiares deverão usar máscara cirúrgica, luvas e aventais de proteção o que, segundo a família, não foi oferecido. 

Por meio de nota, a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) informou que o Hospital Ernesto Simões Filho segue todos os protocolos em caso de liberações de corpos de pessoas vítimas da Covid-19. 

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