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Disputa pela Bamin expõe divergências entre governos estadual e federal; Brazil Iron deve assumir protagonismo

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Disputa pela Bamin expõe divergências entre governos estadual e federal; Brazil Iron deve assumir protagonismo

Com a iminente desistência da Vale, empresa inglesa ganha força para adquirir a mineradora baiana, mas cenário ainda é cercado de incertezas e desconfianças.

Por Camaçari Notícias

Foto: Ministério da Infraestrutura

A possível venda da Bahia Mineração (Bamin), mineradora com sede em Caetité e dona do ambicioso Projeto Pedra de Ferro, voltou a movimentar os bastidores políticos e empresariais do Brasil. Embora tanto o governo federal quanto o estadual enxerguem com bons olhos a saída do atual controlador, o grupo cazaque Eurasian Resources Group (ERG), há um histórico de divergências sobre quem deve ser o comprador ideal.

No Planalto, a preferida sempre foi a Vale. A gigante da mineração é considerada estratégica pela gestão Lula, tanto pela expertise quanto pela capacidade de investimento. No entanto, o governo baiano sempre demonstrou reticências quanto à companhia, especialmente após a experiência frustrada com a VLI, concessionária da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), da qual a Vale é uma das acionistas.

Em 2023, a VLI propôs descontinuar o trecho da ferrovia que liga Minas à Bahia, alegando "falta de carga". A proposta gerou forte reação dos governos mineiro e baiano, que acusaram a concessionária de “sucatear” o trecho. Esse histórico aumentou o receio de que, caso a Vale liderasse um consórcio com Cedro Mineração e BNDESpar para adquirir a Bamin, poderia repetir a mesma postura negligente no trato com a malha ferroviária da Ferrovia Oeste-Leste (Fiol) e com o Porto Sul.

Brazil Iron desponta como favorita

Com o prazo de preferência da Vale para a compra da Bamin se encerrando no fim de maio e a tendência de desistência ganhando força nos bastidores, quem surge como principal candidata a assumir a mineradora é a inglesa Brazil Iron. A empresa, que já atua em Piatã, na Chapada Diamantina, ofereceu um aporte inicial de US$ 1 bilhão para viabilizar a aquisição e destravar os projetos travados da Fiol e do Porto Sul.

A Bamin, por sua vez, admitiu publicamente dificuldades financeiras. Desde que foi adquirida pelo grupo ERG em 2010, a mineradora recebeu cerca de US$ 2,2 bilhões em investimentos, mas a fonte secou. Agora, aposta em novos investidores para dar continuidade ao projeto de 537 km de ferrovia entre Caetité e Ilhéus, que promete escoar minério, grãos e outras cargas através do Porto Sul.

Apesar do "apetite" britânico, a Brazil Iron também carrega controvérsias. A empresa responde a um processo movido pela Defensoria Pública da União (DPU), que, em 2023, solicitou a suspensão de suas atividades na Bahia por supostos impactos em comunidades quilombolas. O caso ainda tramita na Justiça do Reino Unido.

Vale dividida internamente

Fontes ouvidas pela BNews Premium revelaram que a compra da Bamin nunca foi consenso dentro da Vale. Há uma divisão no conselho administrativo da mineradora: uma ala, liderada pelo presidente Gustavo Pimenta, defende o estreitamento de laços com o governo Lula, de olho na renovação da concessão da VLI. Outra parte, porém, teme uma excessiva interferência estatal na empresa e prefere manter certa distância do governo federal.

Essa disputa interna contribuiu para o esfriamento do interesse da Vale. Além disso, há desconfiança sobre o impacto da Fiol no atual modelo logístico da companhia, que hoje concentra sua operação em portos como Ponta da Madeira (MA) e Tubarão (ES). A Fiol, por ser mais democrática do ponto de vista regional, poderia ameaçar o atual "monopólio" da Vale no setor.

Cedro e BNDES no xadrez

Outra possível jogadora, a Cedro Mineração, pode tentar uma investida solitária após o eventual recuo da Vale. No entanto, o grupo liderado por Lucas Kallas enfrenta problemas reputacionais. O empresário é investigado pela Polícia Federal por suposto envolvimento em um esquema de extração ilegal de minério de ferro na Serra do Curral, em Belo Horizonte, o que pode complicar suas pretensões na disputa pela Bamin.

Já o BNDES, que integra o consórcio inicialmente articulado com a Vale, adota cautela. A instituição informou que não comenta negociações envolvendo empresas de capital aberto. A tendência é que, com a saída da Vale, o banco estatal seja mais rigoroso na análise da viabilidade econômica e técnica de qualquer novo interessado.

Exigências e incertezas

O governo federal, apesar de ter perdido sua principal candidata ao negócio, não deve abrir mão de exigir garantias robustas das empresas interessadas. A Bamin já conseguiu R$ 4,6 bilhões em empréstimos junto ao Ministério dos Portos e Aeroportos, recursos vinculados ao Fundo da Marinha, para viabilizar parte do Porto Sul. No entanto, qualquer novo controlador terá que provar fôlego financeiro e compromisso com a continuidade das obras.

Enquanto isso, a mineradora segue afirmando que está em processo de reestruturação de capital conduzido pelo ERG. Em nota, a empresa disse que não comenta especulações de mercado. A Brazil Iron também evitou se pronunciar oficialmente, limitando-se a dizer que não comenta rumores.

A disputa pela Bamin é mais do que uma simples transação comercial: ela revela os bastidores de um verdadeiro jogo político, econômico e estratégico que envolve dois governos com visões distintas, interesses empresariais conflitantes e um projeto logístico que pode redefinir o mapa da infraestrutura no Nordeste.

O desfecho dessa novela, que deve ganhar novos capítulos após o fim da preferência da Vale, terá impacto direto sobre o futuro da mineração, da logística e do desenvolvimento regional na Bahia.

 

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