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Polícia
Por: Sites da Web
"Eu tinha 4 anos, ele era adolescente, eu não sei exatos quantos anos ele tinha, me lembro exatamente o peso da mão dele todas as noite antes de dormir". A estudante de psicologia Camila Leite relata com detalhes da história de abuso que viveu ainda na infância. Parte do relato foi compartilhado no Twitter.
Após o caso da menina de 12 anos, que foi vítima de comentários pedófilos na rede social durante a exibição do primeiro episódio de "MasterChef junior", da Band, usuários começaram a usar a hashtag primeiro assédio para compartilhar o problema, que é grande e deve ser discutido.
#primeiroassédio
"'Você deveria parar de falar que foi estuprada'. 'Mas eu fui'. 'Mas não precisa ficar chocando as pessoas' #primeiroassedio". Foi assim, no meio do Twitter, que Camila resolveu contar aquilo que ela não gosta de lembrar e as palavras de uma tia que custa a admitir o ocorrido sob seu teto. "Não costumo entrar em muito detalhes, porque a história sempre me incomoda", disse ela, nesta quinta-feira (22). Até o fechamento desta matéria, mais de 3,4 mil tuítes mencionavam a hashtag.
"Choro até hoje"
A seguir, Camila relata o que passou: "Me disseram que nós seríamos irmãos. Me disseram que ele cuidaria de mim. Era uma família. Me disseram pra ser grata, pois agora eu tinha uma família e uma família rica. Eu não podia reclamar de nada. Se eu não me comportasse, teria que ir embora daquela casona cheia de brinquedos. Eu não queria que minha mãe voltasse a ter que trabalhar tanto. Eu não queria voltar pra casa da minha tia que jogava minhas coisas no chiqueiro. Era toda a noite, eu me lembro da disposição das camas.
Eram três camas de solteiro, e só a minha e a dele ficam juntas. “Somos muito apegados.” A irmã dele dormia na cama encostada na parede, a única separada. Por baixo na coberta, quando as luzes se apagam, minha meu pijama era tirado. Ele colocava as mão dentro de mim e me fazia colocar as mão dentro da calça dele. Me virava de lado e encostava em mim. Roçava, esfregava até que entrava. Várias vezes eu fiz xixi na cama quando ele saia. Teve uma noite que eu apanhei da minha mãe, por que 'moça não deveria fazer xixi na cama'. Nunca mais fiz xixi na cama. Nem no corredor. Eu segurava o xixi, mesmo com a dor. Depois, eu só queria minha mamadeira, e chorava. Choro até hoje. Deve ser todo o xixi que eu segurei".
"Senti uma vergonha imensa"
Renata Gomides, doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC, também guarda sua história de infância. "Quando fui assediada aos 12 anos (talvez menos, não lembro ao certo), por um homem que tirou o pênis para fora da calça e começou a se masturbar na minha frente, no meio da rua, em plena luz do dia, senti uma vergonha IMENSA. Fiquei paralisada, não consegui gritar, não conseguia compreender aquilo. Só consegui correr depois de alguns segundos. Tampouco consegui contar o que vivi.
No fundo, acho que tive medo de ouvir da minha mãe que eu tinha feito alguma coisa pra merecer aquilo - estar voltando sozinha do colégio, estar andando distraída, estar fazendo sei lá o quê. Já aos 15 anos, quando um grupo de homens passando por mim numa Kombi, numa pista de terra numa praia perto de Fortaleza, me agarrou, passou a mão, xingou (e eu estava voltando da praia para a casa, só de biquini), eu contei tudo, revoltada e convicta do abuso. Não lembro a reação dos adultos, mas lembro que um primo um pouco mais velho (uns 18 anos) pegou o carro e saiu revoltado, tentando achar a kombi, querendo "matar" os caras. Na mesma praia, anos depois, uma amiga foi violentada por um local, inclusive conhecido da família".
"Corri e contei para a minha mãe"
A publicitária Renata Gervatauskas, motivada pelo movimento no Twitter, iniciado pelo perfil @ThinkOlga, também usou a rede social para dizer além do óbvio sobre assédio sexual na infância. Ao iG Delas, ela contou detalhes: "Um homem me chamou de dentro do fusquinha e me perguntou onde morava a Professora Helena.
Eu cheguei mais perto da porta pra saber que professora era aquela e vi que ele estava agitando a mão e que havia algo na mão dele. Até entender que aquilo que ele estava agitando era uma parte do corpo, levei alguns segundos. Achei estranho ele estar com o pinto pra fora e saí correndo. Entrei em casa, contei pra minha mãe. Eu não entendi direito, não sabia o que era masturbação. Eu tinha uns 9 anos. Ela ficou horrorizada e alertou a vizinhança sobre o tarado do fusca”.
"Poucos denunciam"
"É ao mesmo tempo assustador e previsível que tantas pessoas (homens, sobretudo) sintam-se à vontade para manifestar intenções ou tecer comentários criminosos publicamente no Twitter (e em outras redes sociais)", comenta Renata Gomes.
A usuária tem razão quando menciona que, por um lado, tem o anonimato que o apelido do Twitter parece garantir a alguns e; por outro, o fato de o brasileiro não ter, em geral, a cultura de levar sua indignação adiante. "Poucos denunciam às autoridades responsáveis, até pela crença na ineficiência da justiça. Mas também acho "fascinante" o nível de naturalização de todas essas coisas que muitos não se envergonham em expressar: misoginia, machismo, pedofilia e, noutros momentos, racismo, xenofobia, homofobia e por aí vai", continua.
Novo padrão de comportamento
Para Renata Gervatauskas, o ambiente das redes sociais é democrático e válido para discutir tais temas. "A gente está começando a discutir questões que eram dadas como “normais”. As redes estão, não apenas documentando algo que sempre aconteceu de forma velada, mas denunciando e provocando um novo padrão de comportamento".
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