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Na &uacute;ltima semana do ano 2014, decidi comprar roupas novas para come&ccedil;ar 2015 em novo estilo, ali&aacute;s, (re) inventando os estilos. Poder combinar roupas antigas com trajes novos, abrir m&atilde;o de pe&ccedil;as obsoletas e refinar o gosto... Afinal, a vida precisa ser recriada todos os dias a partir do que j&aacute; possu&iacute;mos.

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	Entre v&aacute;rias ofertas, escolhi quatro cal&ccedil;as, tamanho 42. Achava que, durante um ano, o meu peso n&atilde;o tinha aumentado. Dei-me conta de que muitas coisas tinham mudado n&atilde;o apenas em meu corpo, mas tamb&eacute;m na forma de olhar a vida. De repente, o tamanho da cal&ccedil;a j&aacute; n&atilde;o servia mais.

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	Animado com os pre&ccedil;os - 60% de desconto nas pe&ccedil;as - fui feliz para o provador. Pedi conselhos &agrave;s vendedoras, pois nessas horas &eacute; bom contar com a refinada opini&atilde;o das mulheres em rela&ccedil;&atilde;o &agrave;s cores que combinam com cal&ccedil;as, camisas, sapatos. N&atilde;o &eacute; que me falte o bom gosto, mas &eacute; sempre bom escutar uma opini&atilde;o especializada. As mulheres, realmente, fazem a diferen&ccedil;a na nossa vida. Como uma tela com uma precisa combina&ccedil;&atilde;o de cores, a vida de um homem pode ficar mais colorida com um sorriso e um olhar feminino &agrave;s vezes dizendo: &ldquo;Essa da&iacute; ficou &oacute;tima em voc&ecirc;&rdquo;, &ldquo;Aconselho essa pe&ccedil;a, porque voc&ecirc; tem um rosto redondo&rdquo;. &ldquo;Essa da&iacute; n&atilde;o cai direito, porque voc&ecirc; &eacute; alto, precisa ressaltar isso ou aquilo de sua personalidade&rdquo;. Nessas horas, at&eacute; a psicologia do senso comum da vendedora supera a nossa expertise.

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	Logo que experimentei a primeira cal&ccedil;a, percebi que ficou muito apertada, quase n&atilde;o cabiam as minhas pernas. Ent&atilde;o, pensei: &ldquo;l&aacute; se vai o esfor&ccedil;o de comprar na promo&ccedil;&atilde;o&rdquo;. Para n&atilde;o chorar, comecei a rir de mim mesmo diante do espelho. Olhei para o meu corpo, minha barriga, o leve aumento do peso e, logo, os &ldquo;pneus&rdquo;. O tamanho n&atilde;o era mais o mesmo. Aquele n&uacute;mero de cal&ccedil;a j&aacute; n&atilde;o cabia mais em mim.

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	O tempo pregou-me uma pe&ccedil;a. Poderia ficar angustiado com as mudan&ccedil;as no corpo? Isso &eacute; sinal de fartura ou de excessos? Como aliviar o peso? Obedecer precisamente prescri&ccedil;&otilde;es dos nutricionistas ou (re)ver a forma como alimenta-se? (Re)interpretar as mudan&ccedil;as como transi&ccedil;&otilde;es das idades e esses novos &ldquo;quilos&rdquo; como generosidade da vida dizendo nas entrelinhas que o tempo de menino passou. Como encarar essas mudan&ccedil;as de tamanho?

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	Levei um tempo at&eacute; encontrar outras pe&ccedil;as de roupa que se ajustassem &agrave; minha cintura. Como precisamos ter paci&ecirc;ncia para encontrar aquilo que cabe um pouco em nossa forma! Comecei a refletir - cal&ccedil;a e amor andam de m&atilde;os dadas. Enquanto a primeira cobre, o amor descobre, revela nosso avesso. Conclu&iacute; que uma mudan&ccedil;a de apenas um n&uacute;mero da cintura fazia uma grande diferen&ccedil;a, n&atilde;o somente no pre&ccedil;o, mas na idade cronol&oacute;gica. Ser&aacute; que o tempo pode ser visto como uma dimens&atilde;o qualitativa da vida?

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	Conclu&iacute;da a compra, sa&iacute; do shopping com um burburinho na cabe&ccedil;a e comecei a pensar sobre os diferentes tamanhos de roupas que utilizamos ao longo de nossa vida: pequeno, m&eacute;dio e grande. Esses tamanhos nos identificam e v&atilde;o se ajustando ao nosso corpo &agrave; medida que vamos amadurecendo. Hoje, ningu&eacute;m envelhece, amadurece. N&atilde;o completa 70 anos, tem &ldquo;sete ponto zero&rdquo;. H&aacute; aqueles que usam tamanho p, nem por isso s&atilde;o &ldquo;pequenos&rdquo;; aqueles que cabem no m, mas tampouco s&atilde;o &ldquo;medianos&rdquo;; e o g, embora seja &ldquo;grande&rdquo;, de outro ponto de vista, pode ser algu&eacute;m com um olhar &ldquo;pequeno&rdquo;.

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	Passei a usar g. E agora, o que devo fazer? As mudan&ccedil;as de tamanho de nossa cintura deveriam vir acompanhadas de transforma&ccedil;&atilde;o na nossa forma de olhar a vida. Aqueles que usam tamanho pequeno deveriam se esfor&ccedil;ar para ver a vida de um tamanho m&eacute;dio. Aqueles que usam tamanho grande deveriam ver a vida de uma forma ampliada, mais dilatada. Todavia, acho que devemos abandonar a nossa preocupa&ccedil;&atilde;o com os tamanhos, porque ele, &agrave;s vezes (n&atilde;o) pode ser uma quest&atilde;o de &ldquo;documento&rdquo;.

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	Sem preocupa&ccedil;&atilde;o com os &ldquo;quilinhos&rdquo; a mais que ganhamos e sim com a nossa experi&ecirc;ncia de vida. Com o passar dos anos, poderemos ver no que a vida est&aacute; tornando-nos ou quem n&oacute;s transformamo-nos ao ser ativos/decisivos nas circunst&acirc;ncias inevit&aacute;veis que acometem a todos.

	 
	*Isael Sena &eacute; psic&oacute;logo, professor e escreve periodicamente para o Cama&ccedil;ari Not&iacute;cias. Email: senaisael@gmail.com 
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Crônica: ainda no tamanho “M”?

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